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quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Zombie

Sim, continuo aqui. Mas não devo ser bem eu. Desde que te foste embora, só sei respirar automaticamente. Crescem-me dores como ervas daninhas. Sinto a minha pulsação em cada uma delas. E choro.

Sim, continuo aqui. Mas por muito tempo? Desde que te foste embora só sei olhar sem ver. Crescem-me humores como cancros incuráveis. Sinto o meu coração a escurecer em cada um deles. E choro imenso.

Sim, continuo aqui. Não deve ser lá por muito tempo... Porque desde que te foste embora não sei fazer nada. Crescem-me nadas no meio do nada. Não sinto nada nos nadas. E apetece-me morrer...

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Quando era jovem e tinha tempo,

e cabeça,

esse era o meu país.

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Tirado do baú II

Regras com r’s muitos.

Pés descalços sobre linhas finas nylon brancas
Correr, saltar, subir aquela rua que vai dar à tua casa.
Estender os braços abertos e deixar-me cair para trás esperar a tua respiração a tua mão o teu olhar seguro como mil pares de braços a agarrarem o meu corpo dormente
Um sorriso esboço de sorriso como quem é feliz
Saber que sim ou não comer lavar ler trabalhar e cantar para ti
Como um melro à janela abanar-me ao som do preto da música da guitarra do cravo das crinas de um cavalo que me leva, te leva nos leva por aí

Fazer uma festa em que somos nós os festejados no meio de cores e notas e milhares de rostos alegres que nos querem felicitar.
Dançar uma valsa, bourrée uma dança mal amanhada uns passos toscos, mas dançar contigo sobre mim girar ter uma saia rodada e mostrar a saia a roda da saia a toda a gente girar girar girar

Tirado do baú I

I have this little bird in a cage, he’s blue and white like myself. Didn’t I show you the other day? I thought I did. Zeus is his name. Yes, like the god. Isn’t he a nice little bird? O yes, he is. Cute little bird. Nice little bird. Someday I’ll set him free.

sexta-feira, 24 de julho de 2009

Uma dor no coração

Sentado na poltrona vermelha, espero. Não sei bem que horas são, nem o dia, mas espero. Alguém há-de aparecer. Se me lembro bem, tenho dois filhos e filhos de filhos. Ou não? Que ano é? Onde estão os miúdos? Quantos anos passaram desde que a minha mulher morreu?

Pareceu-me ouvir a porta. Sim, ouvi a porta. Estava tão distraído com os meus pensamentos que quase não a ouvia. Levanto-me devagar, as pernas torpes, já não consigo manter sequer a cabeça direita. Mas ainda caminho. À porta está um amigo de longa data que me pergunta se não quero ir tomar um café. Tenho passado demasiado tempo em casa e por isso aceito.

Não me lembro bem como desci até à rua, mas encontrei-me à porta do edifício, de mãos nos bolsos (fui eu que me vesti?), chapéu na cabeça, o meu amigo a meu lado. Recordamos com saudade outros tempos. Pergunta-me pela minha mulher, e uma breve sombra enevoa-me o pensamento, mas depois, não é nada, e respondo que está bem, obrigado. E os miúdos, e eu, uns reguilas.

Não sei como voltei à espera de poltrona vermelha. Onde está o meu amigo? Perguntam-me se quero jantar, mas como posso jantar sem a minha mulher? Espero por ela.

Lá fora, o sol esconde-se devagar por trás dos prédios. O meu filho disse que me vinha visitar hoje. Ou isso foi ontem? Que dia é hoje?

À vezes os meus netos visitam-me. É bom sentir o optimismo da juventude à minha volta. Gosto que se sentem ao meu lado e que falem comigo. Gosto que me segurem a mão. Gosto do seu interesse nas minhas histórias. Não gosto quando se vão embora. Às vezes falam-me de pessoas de quem não me lembro, mas não posso dizer-lhes isso, ou julgam que já não estou bom da cabeça.


Olho para as horas. Mas já não consigo distinguir bem os números. Que horas serão? Já não há luz lá fora. E a minha mulher, que nunca mais chega. Há quanto tempo morreu?

sábado, 30 de maio de 2009

Hall

Quando era pequena, havia sítios especiais.

Brincava com a filha da dona do mini-mercado do nosso prédio.

Dormia com o cabelo molhado numa trança para no dia seguinte acordar com o cabelo frisado.

Lembro-me de letras difusas de um poema que tínhamos de decorar. Era pequeno, e falava sobre meninos no recreio.

(certa vez, fui um menino de calções sujos e joelhos esfolados. As mãos pegajosas de sugus babados)

Como não vêem...?

Bocejei.

De repente, os campos verdes de outro dia. com cheiro a margaridas. A minha Mãe, branca e loira, também cheirava bem.

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

you will mistake me

Tu querias escrever, mas se não sabes, não escreves... Como queres? querer não é esperar de braços estendidos.

Mas as palavras não ditas queimam a garganta, sufocam o coração. O meu coração sufocado, ele bate assim:

TUMTUM

TUMTUM

mas às vezes:

TUMTUMTUMTUMTUM

e às vezes:

TUMTUM PISCATUM GATÁ

Gostava de ser, como em, o original. Mas sempre uma imitação reles de qualquer coisa...!

Irra!